Os caiçaras da Picinguaba


Despretensiosamente em data recente resolvi colocar numa página do Facebook, de um grupo denominado "Ubatuba Sim", uma foto tirada na Vila da Picinguaba que pode ser vista acima. Perguntei, como é praxe naquele grupo, se alguém conhecia. Vivendo agora no quase marasmo e na tranquilidade desse outrora inacessível paraíso, fico às vezes, ou muito, dependendo do que o clima me prepara para o dia preenchendo o tempo navegando na internet, e notei que a tal foto vinha recebendo um grande número de "curtidas" e até compartilhamentos, além de observações, comentários, declarando amor incondicional pelo lugar. O hobby da fotografia é outra atividade que anda acompanhando meu ócio e confesso que já capturei imagens que julguei superiores a esta, tendo inclusive incluído algumas num concurso de um periódico da cidade, sem muito sucesso.
Estranho portanto que essa aí, tão desprovida de maiores atrativos, tenha despertado tamanho interesse.
Restou buscar a razão: acredito que a visão de tão bucólico e pitoresco lugar desperte nas pessoas uma espécie de utopia, um sonho que hoje não é mais permitido, de viver numa comunidade à beira mar, longe dos problemas comuns dos grandes centros e com a simplicidade que só o mar e o povo que vive na proximidade dele usufrui.
E um exemplo do que é ser caiçara meu foi dado ali, nesse mesmo dia. Naquela localidade tão carente dos recursos modernos apareceu um defeito no meu carro e a bateria arriou. Apavorado pela situação que se apresentava, visto que não havia a menor possibilidade de socorro mecânico imediato e a tarde já caia, pedi ajuda a um morador, sem muita convicção de que teria sucesso. Imediatamente este se prontificou a acompanhar-me pela Vila e saímos à procura de solução. Um outro se juntou a nós e mais outro, logo vários estavam tentando resolver o MEU problema. A certa altura o primeiro, creio que Rocheto era seu nome, comentou que sua família o esperava em casa, era dia dos pais. Eu o liberei, afinal ele não tinha obrigação nenhuma de me ajudar em detrimento do seu bem estar. Prontamente veio a resposta: "não, vamos fazer seu carro funcionar primeiro, depois eu vou. Moço, A GENTE É ASSIM". Eu já sabia, e confirmei isso com ênfase. E assim é esse povo caiçara, muitas vezes criticado pela não compreensão do estilo de vida, confundido com indolência, conformismo ou preguiça. Toleima, como diz o Rosa. Eles sabem o que não sabemos. E não cobram, não pedem, não reclamam. Sabiamente vivem. Estou aprendendo.

Comentários

  1. É assim mesmo, amigo! Quantas vezes a solidariedade foi a nossa marca!

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  2. É assim mesmo, amigo! Quantas vezes a solidariedade foi a nossa marca!

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