Bar da Linguiça, Camburi, Ubatuba.

Lembro-me muito bem da primeira vez que visitei Ubatuba, praia do Camburi, carnaval de 1977. Vai para 40 anos. A Rio-Santos estava recém construída no trecho de Itamambuca à Divisa, asfalto perfeito, muitas minas d'água nas margens da estrada, alguns indígenas tentanto comercializar seus artesanatos. Palmiteiros caiçaras. E só. Do Perequê-Açú até a Picinguaba não guardo na lembrança nenhum tipo de comércio. Só na entrada da nossa praia particular, nossa e de parcos moradores nativos ou alguns eventuais hippies viajantes, comuns naqueles tempos, tinha um barraco mal construído engenhosamente na frente da portentosa Cachoeira da Escada, lado esquerdo de quem ia a Paraty. Quilometro 1 da SP-055 ou BR-101, como queiram. Era o boteco do Zé, ou Bar da Linguiça, como a gente o chamava, ponto obrigatório de parada não só por ser o único, mas pela qualidade do lanche e dos torresmos que ele serve e pela atenção e cordialidade do proprietário, sempre pronto a bater um papo com o turista e contar algumas histórias do lugar.
E a beleza da cachoeira. E a cobra. Parávamos na descida para a praia, onde a natureza exuberante nos prendia por quatro, cinco dias, trilhando até perto de Trindade pela esquerda ou para a Brava ou a Prainha à direita, onde lembro-me morava uma velha senhora, creio que sózinha, que nos cobrava uns centavos pela água caindo da montanha em cano de bambú no seu quintal, para beber ou para o banho refrescante depois da caminhada. Algumas vezes voltei, e a importância daquele lugar ficou marcada na minha vida. Procurei trazer todos os entes que me fossem queridos para conhecer aquele paraíso. Sempre parando para admirar a Cachoeira e saborear o lanche de linguiça, o torresmo e a hospitalidade do Zé, e depois de sua filha, de sua família. Ele envelheceu, eu também. Não me conhece claro, tanta gente passa por ali. Mas aquele lugar, aquele quase casebre intocado e por isso interessante e querido jamais sairá da minha memória. Ontem voltei à região com a Regina, que não conhecia, para visitar a Praia da Fazenda, homenagem que fiz a meu amigo recém falecido Alex, por conta da paixão que ele tinha pela talvez mais linda praia de Ubatuba. No final da tarde resolvemos comer um lanche e estando naquela região só poderia ser no Bar da Linguiça. Nunca passo por lá sem parar.

Surpreso, ouvi a notícia de que o bar será derrubado, não soube detalhes, se pelo Estado, está dentro do Parque Estadual da Serra do Mar, pela Prefeitura, ou os motivos que para mim pouco importa. O que importa é que mais um pedaço do mundo  e de meu coração estará sendo arrancado de mim. E a única forma de protesto que me permite são essas palavras.



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