Está faltando um pedaço no Guaçu

Conheci o Alex em 1979, através do seu inseparável irmão João Batista. Eu era novo em Artur Nogueira, apesar das minhas origens pelos antepassados, que remontam ao século XIX. E não era fácil para alguém vindo de fora, aos vinte e poucos anos, fazer amigos numa cidade com o tamanho que ela tinha na época. O provincianismo imperava. Contudo, a empatia, como diria outro amigo nosso, foi imediata e a amizade durou até hoje. Aquela figura imponente, marcante no seu estilo tedesco-sueco, poderia num primeiro instante assustar seu interlocutor, mas cinco minutos de conversa seriam suficientes para desmanchar quaisquer impressões negativas. Não havia nunca um dia que não tivesse uma piada pronta, ironizando as mazelas do dia-a-dia, fossem elas políticas ou futebolísticas, mesmo que fosse contra o seu Corinthians. No decorrer da minha convivência na cidade acabei ficando muito amigo dele, tendo sido inclusive funcionário seu no Posto do Bruno, seu pai. Ajudou-me num momento muito difícil da minha vida profissional, a mim e a muita gente. Filho de uma família inteira de pessoas de índole muito simpática - fui e sou amigo de muitos deles, Kalu, Hermann, Hugo, Eduardo, Wanda, Magali e todos mais - construiu sua reputação com honestidade e simplicidade, sem contudo perder a altivez. Quem o conhece de longa data, como eu, ou quem veio a manter contato no supermercado de outro irmão dele, o Ademir Guidolin, hoje Buona Gente, lembrará sempre com carinho da sua figura para lá de carismática. Não sou religioso, desprezo essas despedidas post mortem, mas certamente estaria aí para visitá-lo pela última vez. Como moro agora em Ubatuba, amanhã farei minha homenagem silenciosa num lugar que ele gostava muito, a Praia da Fazenda. E o Rio Mogi Guaçú sempre cantará um canto de louvor naquelas curvas da Paulama.

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