PONTA DO ESPIA
Como parte da comemoração (comemoração?) do dia da Paz de Yperoig (paz?), o dia 14 de setembro, sol de 30 graus logo às nove da manhã, ficou destinado à exploração de uma região pouco conhecida desse fantástico canto de mundo que é Ubatuba, a Ponta do Espia. Situada entre as conhecidas praias das Toninhas e Enseada, a região de muitas histórias contadas pelos antigos caiçaras e apreciada por eles mantém alguns recantos quase inexplorados da Mata Atlântica e algumas praias de acesso difícil. Conta-se que quando da rebelião no presídio da Ilha dos Porcos (ou Anchieta) muitos fugitivos utilizaram-se dessas matas para escapar ou se esconder da polícia. A ilha quase toca a costa nesse ponto.
Vista da Praia do Flamengo a partir da Prainha da Enseada |
Vista do Saco da Ribeira a partir da Prainha da Enseada |
Tomando como ponto de partida o canto esquerdo da Praia da Enseada, alcança-se a trilha passando por um local que mais parece uma vila, com casas construídas a 20 metros do mar, porteiras tentando impedir ou ao menos intimidar a entrada de estranhos e ruas de calçamento. Caminhando cerca de 100 metros surge uma corda atravessada para que veículos não ultrapassem, passa-se pelo quintal de uma moradia que parece ser "propriedade" de um sitiante, cujo nome consta nas placas de advertência - ameaçando inclusive com a presença de cães bravos - e então lá está, com mais ou menos um metro de largura e exuberância de helicônias, samambaias, araçás e outras de porte mais avantajado, como guapuruvus, embaúbas e até Jatobás e Jacarandás. Logo no início fica a Prainha da Enseada ou portinho, lugar ideal para crianças brincarem, Também é o único ponto com água potável, Há uma bica encanada que cai na praia.
Palmeira Jerivá |
Mata Atlântica |
Após pouco mais de uma hora de caminhada surge à direita um tronco que atravessa uma picada íngreme, em direção do mar, percebido pelo barulho das ondas quebrando contra a costeira. Cinco minutos por esse caminho até a Praia de Fora.
Praia de Fora vista do alto |
Praia pequena, ideal para o surf, chamou a atenção a quantidade de objetos de plástico, mais provavelmente lançados pela maré que deixada por turistas. À frente, uma bela vista da Ilha de Anchieta.
Voltando à trilha principal segue-se sentido leste por mais uma hora, com muitos sinais de entrada à direita que provavelmente darão a pequenos promontórios ou praias que se formam com a baixa-mar e desaparecem na preamar. Numa delas, alcançada por uma descida quase inacessível por causa do campo de samambaias, a areia avermelhada é bem visível e nota-se que serve para atracamento de canoas, no dia haviam duas. Talvez seja a Praia da Xandra, conforme consta dos mapas. Um pouco à frente alcança-se a Praia do Tapiá, também chamada Itapecirica.
Mais brava, essa praia se transforma em duas ou três conforme a maré e tem uma lagoa distante uns vinte metros mata dentro, também uma floresta de guabirobas. Se fosse possível seguir adiante, no canto esquerdo, um pouco acima da praia entre as rochas, a trilha segue até um local impossível de se passar, imposição essa criada por pessoas mais iguais que outras que se apossaram do lugar sob o olhar condescendente de algumas autoridades para criar um condomínio de luxo com praia particular. O acesso anos atrás era alcançado a partir das Toninhas. Supõe-se que a praia seja chamada de Godoy.
Lagoa na Praia do Tapiá |
Praia do Tapiá |
Praia do Godoy |
Condomínio nas Toninhas |
Final do passeio, considerar duas horas de caminhada para ida. A volta é pelo mesmo caminho, infelizmente, por causa do direito que nos foi negado de chegar ao outro lado.
A menção um tanto irônica no início da narração sobre o feriado da Paz de Yperoig refere-se ao desfecho histórico da revolução chamada Confederação dos Tamoios, quando menos de um ano depois do término das hostilidades entre portugueses e tupinambás intermediadas pelos jesuítas José de Anchieta e Manuel da Nóbrega, os portugueses, descumprindo o acordo, exterminaram totalmente a população de nativos.
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